ENTREVISTA COM A ESCRITORA ROSÂNGELA TRAJANO

quinta-feira, 5 de outubro de 2017



Quando você começou a escrever para crianças?
Eu publiquei o meu primeiro livro para crianças em dezembro de 1999, foi um livro de poesias.
Você tem ideia de quantas poesias para crianças já escreveu?
Este ano comemorei a minha poesia de número 1.000.
Por que escolheu escrever para crianças?
Não fui eu quem escolhi, foram as crianças. Um dia, um menino pediu-me para escrever uma história para ele e de lá pra cá nunca mais parei de escrever para meninos e meninas.
Você tem um projeto de literatura com as crianças de Sítio Serra Nova, não é mesmo? Fale-nos um pouco sobre ele.
Sim, tenho. O projeto começou no ano de 2008 e se chama Pé de Mim. Eu conto histórias para as crianças e elas produzem desenhos a partir do que compreenderam da história ouvida. É muito legal! Antes havia mais crianças em Serra Nova, hoje há poucas.
Desse projeto já foi produzido um livro com as crianças?
Sim. As crianças do projeto Pé de Mim, em Sítio Serra Nova, escreveram textos sobre o meio ambiente e ilustraram. Foi tudo feito por elas. Eu apenas organizei o material. O título do livro é  “Soltando os bichos”. Um livro muito bonito que fala dos bichos que as crianças conhecem. Foi uma grande alegria para mim produzir esse livro. Eu me lembro que ficava me deleitando com as ilustrações e os pequenos textos, cada um mais belo do que o outro.
Você tem formação em filosofia?
Sim, sou licenciada e bacharel em filosofia.
Este é um dos motivos que as suas histórias tratam sempre de temas como valores e virtudes morais?
Também. Gosto de trabalhar os valores e as virtudes morais nas crianças para que elas cresçam virtuosas. Quando se ensina o bem desde pequenino na idade adulta coloca-se em prática o que foi aprendido na infância. Os meus livros sempre trazem temáticas sobre o meio ambiente, as virtudes e os valores morais.
Você tem um projeto de filosofia com crianças?
Sim, tenho. Desde o ano 2002 que iniciei um projeto de filosofia com crianças na calçada da minha casa com os meninos da minha rua. Inclusive esse foi o tema da minha dissertação de mestrado. É um projeto que conta com três momentos: contação de histórias, diálogo reflexivo e desenho interpretativo. O projeto se chama Giges e conta com os meninos de várias ruas. Infelizmente, perdemos a calçada tem mais ou menos dois anos devido a uma reforma feita na minha casa e, hoje, o projeto é realizado no pátio interno da minha casa, mudamos apenas o dia dos encontros que passou para às terças-feiras às 19 horas. O projeto teve início quando eu cursava o segundo ano de filosofia e conheci o método do professor americano Mattew Lipman. Fiquei impressionada com o fato de poder ensinar filosofia às crianças. Fui atrás de várias escolas no intuito de ser contratada para dar aulas de filosofia com crianças, mas todos os diretores e coordenadores exigiam o curso de Lipman, coisa que eu não tinha. Então, decidi criar a minha própria sala de aula na rua seguindo aos princípios pedagógicos do filósofo Sócrates que ensinava nas praças públicas aos jovens.
Você chegou a ser professora de filosofia com crianças em alguma escola pública?
Fui professora durante quatro anos de filosofia para crianças no município de Extremoz aqui no Rio Grande do Norte. Ensinei em quatro escolas diferentes. Foi uma experiência valiosa. Adquiri muito conhecimento para a minha pesquisa de filosofia com crianças.
Você criou um material didático de ensino de filosofia com crianças?
Criei quatro coleções de filosofia com crianças para auxiliar os professores em sala de aula. As coleções são “Lelo amarelo belo” para a educação infantil, “Para gostar de pensar” para o ensino fundamental I, “Amigos do saber” para o ensino fundamental II e “De boa” para o ensino médio. Ainda estou dando os primeiros passos com o ensino médio, pois não tenho tanta experiência com adolescentes, mas gostei de escrever uma coleção de material didático para eles.
Você também tem um curso de filosofia com crianças?
O meu curso ensina os conceitos básicos de filosofia da educação, pedagogia e filosofia com crianças. É um curso com trinta horas aulas e tanto é ensinado à distância quanto presencial.
Você criou um método de ensino de filosofia com crianças chamado Lino? Por que precisou criar um novo método e não seguiu Lipman?
Eu sempre fui sozinha na minha pesquisa e estudos na filosofia com crianças. Só há pouco tempo é que encontrei aqui no Rio Grande do Norte outras pessoas que trabalham com esse tema. Necessitei criar um método porque não achava bom o de Lipman para as nossas crianças que trabalha bastante a lógica e o pensamento cognitivo. Eu queria algo que trabalhasse com o mundo imaginário da criança, com o seu mundo subjetivo, com as suas indagações e, apesar de me aproximar de Lipman em algumas coisas acabei me afastando dele com o meu novo método. Eu trabalho o imaginário da criança e Lipman a lógica.
Por que deu o nome de Lino ao seu método?
Eu amo a história do combatente Manoel Lino de Paiva, amo Sítio Serra Nova e amo as crianças de Martins. Quis fazer uma homenagem ao lugar que sempre me acolheu com amor e carinho. Lino tem uma história bonita de coragem e virtude que me enche o peito de orgulho. E acho que é preciso coragem para fazer o que eu já fiz durante todos esses anos sozinha nas minhas pesquisas. A gente tem que ter coragem nessa vida para seguir adiante mesmo quando o caminho for de pedras e escuro.
Como surgiu a ideia de adaptar a vida do combatente Manoel Lino de Paiva para crianças?
Foi na minha última visita à Martins em abril desse mesmo ano. Eu estava no memorial e vi algumas crianças curiosas querendo saber sobre ele, mas não tinha nada que falasse na linguagem da criança sobre a sua vida. Era tudo muito adulto e acho que falar sobre a guerra para crianças muito difícil. Quando voltei para Natal fiz o meu primeiro rascunho e fui aprimorando a ideia até chegar a escrita final que resultou na obra. No início fiquei receosa, achava que falar de guerra para uma criança de cinco anos era uma coisa muito difícil, principalmente ter que contar como morreu o herói, mas encontrei uma forma leve de contar a história.
Falar da guerra deve ser difícil para qualquer público, não é mesmo?
Sim, falar da guerra não é nada fácil. Ela traz sempre histórias tristes. Soldados mortos em batalhas, crianças que perderam os pais nas guerras, crianças que têm os lares destruídos pelas guerras e famílias inteiras que morrem vítimas de conflitos entre os exércitos. Mas a história de Lino tem um final bonito, porque ele foi reconhecido como um herói e as crianças gostam dos heróis. Lino morreu em meio a uma batalha, lutou bravamente pelo seu país e não abandonou os seus amigos quando o exército inimigo avançou. Ele foi um verdadeiro herói. E histórias de heróis tornam-se belas para serem contadas.
Você também ilustrou o livro?
Eu tinha um sonho de ilustrar um livro meu. Achava que nunca conseguiria fazer isso, mas vi em Lino a oportunidade de apresentar as minhas ilustrações ao público. Foi muito bom criar o menino Lino!
Como é para você o menino Lino?
Busquei ilustrar o menino Lino parecido com os demais meninos brasileiros, de calção e camisa e calçado com uma sandália. Ele é igual a qualquer outro menino que gosta de brincar, ler e de animais.
Qual a indicação de idade para leitura do livro de Lino?
O livro de Lino é indicado para qualquer idade. É uma proposta pedagógica para ser trabalhada em sala de aula com crianças de qualquer idade.
O livro de Lino tem um suplemento para o professor trabalhar em sala de aula. Como adquirir esse suplemento?
O suplemento está disponível gratuitamente em meu site e é um apêndice para auxiliar os professores em sala de aula a trabalharem com o tema das guerras com as crianças e outras abordagens que podem surgir a partir da leitura do livro. O site é www.rosangelatrajano.com.br/site
Você também fez um desenho animado para crianças a partir da obra?
Há alguns anos venho pesquisando sobre animação de curtas para crianças. O desenho animado de Lino é uma experiência minha onde dediquei grande parte do meu tempo. São mais de três mil frames e dezesseis minutos de animação. Um filme para todas as idades com efeitos especiais. As vozes, as ilustrações e a animação são todas de minha autoria. Acho que ficou bom. O público é quem vai dizer. Espero que gostem.
Para finalizar a nossa entrevista deixo aberto um espaço para você convidar o público para o lançamento do seu livro e do seu desenho animado.
Quero convidar todos os martinenses a se fazerem presentes na Casa de Cultura no dia 14 próximo, a partir das 18 horas onde estarei autografando o livro e estreando o filme de Lino. Como já disse, é um livro para todas as idades que pode ser lido por pais, avós, tios e tias para as crianças quanto trabalhado em sala de aula. Foi um trabalho feito com muito amor e eu me sinto lisonjeada e honrada por estar aqui neste momento falando da história de Lino, o meu herói. Espero vocês dia 14 próximo!



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